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Minha Juquinha,

hoje escrevo-te uma carta aberta :) no dia em que fazes 15 anos e entras oficialmente na adolescência.


Até agora não senti esse papão que nós pais todos tememos. As tuas repentinas e desconcertantes mudanças de humor já são algo bastante familiar para mim, desde pequenina. Mas nada disso enevoa o teu ser, até dá uma certa piada. Quando eras pequenina e ainda eras só tu, e eu ainda estava a aprender pé ante pé a ser mãe, eras um desafio. Tinhas vontades muito firmes e uma teimosia valente, mas era engraçado porque eras muito sensível à argumentação. Comecei a aprender que bastava explicar-te o porquê do meu pedido e se te fizesse sentido tu avançavas, se não fizesse sentido, batias o pé. Mas tinhas e tens bastante facilidade em te colocar no lugar dos outros e sentir o que eles sentem. E o que isso te e nos ajuda.


Agora que já tens 15 anos és capaz de começar a mudar um bocadinho, terei que me preparar para isso, eu que sou saudosista mas que, ainda assim, não tenho saudades do tempo de bebés. Nessa altura foste a cobaia das minhas falhas e virtudes. Lembro-me de ser um filme levar-te para a banheira todos os dias, fazer-te comer uma sopa. Com a sabedoria que tenho agora se calhar não te exigiria um banho por dia nem sopa todos os dias. Quando somos mães de primeira viagem há coisas que não sabemos e que temos mesmo que aprender convosco.


Mas agora já comes este mundo e o outro e até já tomas banho de livre vontade e eu tenho uma admiração enorme por ti. És uma miúda tão divertida, temos um sentido de humor muito parecido e rimos imenso de coisas que mais ninguém entende. Sei que todas as minhas piadas tolas são motivo para tu te rires, e depois adoramos repetir até à exaustão reconstruções de momentos que nos fizeram rir. No outro dia por exemplo no Estádio da Luz, estava naquela situação tonta em que eu e outra pessoa queremos passar ao mesmo tempo por um espaço onde só cabe um. Um passa, o outro também, chocamos. Então os dois dizemos "passe, passe!" O outro cumpre e então tenta passar. Como cumprimos os dois voltamos a chocar. Ficámos nisto uma data de tempo e eu a querer acabar com aquilo queria que o rapaz passasse, ele que era cavalheiro queria que eu passasse e não parávamos de chocar. Situação absolutamente ridícula, meu Deus. Até que a Joana que estava ao meu lado já com pingo na testa de nervos nos dá um grito e diz ohhh mãaaaeeee! Tipo: parem por favor! Já nem sei quem passou primeiro porque entretanto perdi a minha presença de espírito e saí da realidade. Mas em casa no dia seguinte refizemos o momento várias vezes para explicar à Rita e foi preciso fugirmos uma da outra para pararmos de rir porque aquilo ia num crescendo sem travões e a barriga já doía de tanta parvoíce junta.


Temos uma dinâmica estranha que se eu estiver a ver qualquer coisa na televisão e pode ser a coisa mais inocente do mundo, tipo pandas bebés, mas se a Joana entra na sala há alguém que se despe na televisão. Ou casais na cama. Ou beijos sensuais. Por outro lado se eu estou ao lado dela e olho de esguelha para o seu instagram há sempre alguém que aparece no feed a fazer o manguito. Ou outra coisa dentro do género. É uma risota e uma atrapalhação ao mesmo tempo. Já percebemos que há algo aqui na nossa energia que faz com que isto aconteça com bastante frequência. Normalmente já só dizemos: olha outra vez! :) E pronto, seguimos caminho.


A tua loucura com o Benfica é algo que me preocupa. Porque te faz sofrer e deitar muitas lágrimas e as mães têm dificuldade em verem os filhos sofrer. Mas acho um piadão ao mesmo tempo, vives o Benfica como mais nada na tua vida, quase concorres com o teu Avô paterno em ter na ponta da língua todas as estatísticas e resultados de jogos do passado, és altamente supersticiosa e achas que tens o poder de, com mezinhas e rezas, interferires nos resultados dos jogos, eu tento decompor isso tudo porque às tantas cada vez que vais a um jogo é uma canseira à tua espera, porque tens que fazer uma data de rituais e apetece poupar-te e a nós a isso, mas um dia chegas lá por ti própria. Eu só viajava se levasse comigo duas Nossas Senhoras de Fátima fluorescentes, uma imagem de Santo António já toda amachucada do suor das minhas mãos nas descolagens e aterragens por esse mundo fora e ainda um pequenino terço do Menino Jesus de Praga. Isto era tudo uma ajuda na altura do medo, até ao dia em que deixei tudo sem querer esquecido no banco de um avião e não pude mais contar com essa ajuda do divino. Hoje contavas-me que não dizes asneiras porque houve um dia que fizeste um sinal mauzito com as mãos a alguém na escola e nesse dia o Benfica perdeu. Achaste que havia toda a uma causa e efeito. E portanto asneiredo deixou de ser opção. Tens tanta adoração pelos jogadores do Benfica que no curso de suporte básico de vida que fizemos as duas, o manequim perneta chegou a ser o Jonas em paragem cardiorrespiratória, a quem fizeste compressões e lhe partiste umas costelas.


Somos muito parecidas em tanta coisa, somos as duas muito caseiras e adoramos o conforto do nosso ninho. Juntas enroscamo-nos no sofá à noite e vemos temporadas inteiras do The biggest looser e vivemos aquele drama e desafios com toda a nossa alma. Mas há muita coisa em que és diferente de mim e ainda bem, na tua idade eu não era tão segura de mim, não sabia e ainda não sei dizer “não” coisa que tu fazes com uma descontração admirável. O meu melhor conselho é que vivas mais o presente (estás sempre um passo à frente) e que desfrutes do processo. Enjoy the process é algo que te digo com muita frequência, sei que também tenho essa dificuldade e que quando o digo a ti, também o estou a dizer a mim.


Joana, Joaninha, Juca, Juquinha, Juca Piranga. És uma filha muito feliz, para mim ser tua mãe é algo que me engrandece, olho para ti e ainda me custa a crer que um dia estiveste na minha barriga. Sei que te dei o melhor de mim, adoro ser tua mãe e da tua irmã. Costumo pensar que deve ser esse o meu propósito de vida, ser vossa mãe, pois é mesmo o que melhor sei fazer na vida.


E hoje que ganhe o Benfica!


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